domingo, 4 de outubro de 2009

04 de outubro de 1995

Quatorze anos desde que o telefone da minha casa tocou as cinco da manhã. Minha mãe atendeu e antes que me dissesse alguma coisa, as batidas aceleradas do meu coração já me anunciavam que do outro lado estava alguém com a notícia horrorosa da perda de meu tio, irmão caçula de minha mãe. Se despedia da vida jovem, aos 42 anos, em decorrência de um infarto que o tirou da fila de espera por um doador de rim. Ele foi sempre um dos mais próximos a mim, certamente o que mais frequentava a minha casa. Aquele telefonema significava que nunca mais passaria meus domingos ouvindo as suas histórias que nunca esqueceria. Naquele momento eu percebi que gostava dele mais do que eu imaginava.

Em pouco mais de um mês eu completaria dezessete anos. Estava no primeiro semestre da primeira faculdade e tinha uma prova naquele dia. Eu nunca fui de chorar mas  foi chorando que entrei no banho e o café da manhã que eu tentei comer, tinha gosto de lágrimas. Eu decidi fazer a prova, e falei com minha mãe que não iria ao enterro. Muitos me chamaram de fria, de sem coração, de desumana, de várias coisas. Naquele dia eu tive certeza de duas coisas. A primeira, é que eu não queria ter como última recordação de meu tio seu corpo inerte e sem vida em um caixão. A segunda, é que realmente existem coisas que nunca saberemos explicar. Quando eu tomei a decisão de fazer a prova para fugir do enterro, eu senti meu tio perto de mim me dizendo que eu fiz a escolha certa.

Com o coração em frangalhos eu fui pra faculdade. Não era a mesma pessoa de sempre, estava quieta, pensativa, segurando o choro. A prova foi no mesmo horário do enterro. Choveu muito naquela manhã, era como se as nuvens derramassem as minhas lágrimas. Eu não me conformava de perder ele tão cedo. Ao preencher o cabeçalho da prova, percebi que era 04 de outubro, dia de São Francisco de Assis, e senti uma paz incrível. Acho que entendi que as coisas não acontecem por acaso.

Quatorze anos se passaram e ainda sinto a presença dele em vários momentos. A tristeza já não é tão grande, a saudade sim. Ela me faz sempre lembrar dele com carinho. Ainda não sei porque resolvi escrever isso aqui hoje. Nem quero me preocupar com isso.

Um comentário:

  1. Amiga, que coisa linda... Eu também senti algo parecido quando perdi meu padrinho. Bjs

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